segunda-feira, 30 de agosto de 2010

No céu com diamantes.


Hoje o caminho que há tanto tempo estou acostumada a passar estava diferente. Eu, acostumada a passar reto e apressadamente, com os fones no ouvido dispersa de tudo, por algum motivo desconhecido por mim mesma diminuí o passo e desliguei a música. Não era a mesma rua! essa tinha árvores bonitas e folhas gotejantes acusando uma noite de chuva, outras molhadas e escuras caídas no chão e a sinfonia dos pássaros no ar. Tinha uma árvore com o tronco vestido de musgo, um pouco descascado por conta do tempo que estivera ali aguentando firmemente sol e chuva. Parei na frente dessa árvore e fiquei observando-a enquanto a garoa envolvia meu rosto com aquele ar frio. Esse ar me fazia bem. Certamente me custará mais alguns dias a base de chá para amenizar o resfriado... mas tanto faz, dias a mais dias a menos não farão diferença. O importante foi o momento, e naquele momento meu corpo e meu espírito pediam que a brisa estivesse ali, comigo.


Me dei conta que sim, era a mesma rua. Mas como nunca reparei-a assim? Simples. Estamos sempre ''ocupados demais'' com nossas desocupações e deixamos de ver o que está na nossa frente.  

O clima favorecia a reflexão. Tudo em minha mente girava freneticamente, muitas informações se transformando em nada. Um grande vazio me tomou, e eu gosto dele. É bom por um instante esquecer tudo e deixar que o momento te envolva.
    
Escrevi ''All You Need is Love'' naquela árvore. Agora todos os dias que eu passar ali vou lembrar da criança que estava sentada na calçada no fim da rua. Ela comia uma barra de cereais, ao que parecia de longe, e tomava algo em uma garrafinha infantil de plástico verde. Ao seu lado tinha um carrinho com papelões e garrafas, mas era grande demais para que pudesse levá-lo, então não sei se esperava alguém. As pessoas e os carros passavam apressados e pareciam nem perceber que estava ali. Talvez não percebessem mesmo. Naquele momento estava sozinha.
  
Meus pés me levavam automaticamente para o caminho que estão acostumados a fazer, todos os dias. Mas hoje não.
  
Os vidros dos carros estavam embaçados em consequencia da garoa, não pude usá-los como espelho como de costume. Cheguei na praça e me sentei em um banco úmido tomado por gotinhas. A cada rua que eu passava surgiam novas ideias, pedaços aqui e ali. Mas eles somem quando vou prendê-los todos juntos à um pensamento só. A cada rua surgiam novos cliques, muitos deles. Gostaria de poder expressá-los em uma forma que outros pudessem entender o que eu entendo, mas estão além de qualquer forma de expressão. Sentimento é algo particular e inexplicável.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Apareceu para não ser esquecida.

       
       
      O calor foi embora, ela roubou descaradamente seu lugar nessa tarde. Da janela observo-a dar seu show; a chuva, a majestosa. Há dias ela não dava as caras. Agora está aí, lavando a cidade com suas lágrimas frias.
      Não vejo muitas coisas dessa janela. Apenas umas plantas e os fundos da casa, é muito limitado, não gosto. Minha vida, aliás, pode ser comparada à janela, ou meus sentimentos sei lá, que no momento um sufocamento cretino toma conta. 
     A chuva não, ela é livre. Rolando ruas afora, trazendo e levando tristezas e alegrias; sorrisos e lágrimas, devaneios. Vai e volta quando quer, amada e odiada, ela não se importa. Sabe que é indispensável, é convencida e humilde, quando tem que ser. É fria, às vezes triste. Consegue ser graciosa e ameaçadora ao mesmo tempo, quando quer. Eu que nunca fiz muita questão estou passando a admirá-la, confesso. 
       Gostaria de ser como ela.


Ooh baby it's a wild world

It's hard to get by just upon a smile.




 




And I'll always remember you like a child, girl.


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

por trás da sujeira.







Para ter lábios atraentes, diga palavras doces; para ter olhos belos, procure ver o lado bom das pessoas; para ter um corpo esguio, divida sua comida com os famintos; para ter cabelos bonitos, deixe uma criança passar seus dedos por eles pelo menos uma vez por dia; para ter boa postura, caminhe com a certeza de que nunca andará sozinho. Pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas. Lembre-se que, se alguma vez precisar de uma mão amiga, você a encontrará no final do seu braço. Ao ficarmos mais velhos, descobrimos porque temos duas mãos, uma para ajudar a nós mesmos, a outra para ajudar o próximo; a beleza de uma mulher não está nas roupas que ela veste, nem no corpo que ela carrega, ou na forma como penteia o cabelo. A beleza de uma mulher deve ser vista nos seus olhos, porque esta é a porta para seu coração, o lugar onde o amor reside.


Audrey Hepburn

who cares?





Não olhe para trás, vai que quando virar se depare com uma bela árvore esmagando seu rosto. Não desperdice oportunidades. Aproveite cada instante, nunca se sabe quando terminarão. E eles não voltarão. Não deixe passar um sorriso. Faça o que quiser, não se prenda. Use e abuse de sua criatividade. Você pode tudo o quiser, você é. Ame, chore, sorria, sofra e tenha o prazer de dar a volta por cima. Aproveite os erros para crescer. Seja esperto. Acorde arrependido mas nunca durma com vontade. Se joga.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

à você


Estava ela mexendo em alguns papéis, quando então um pequeno e ainda branco caiu no chão. Juntou-o e quando olhou para ele, um sorriso surpreso tomou conta de seus lábios. ''Ora, ora... O que fazias perdido aí, pequeno? Devo ter me esquecido de guardá-lo no seu devido lugar, pois desse já não fazes mais parte... Sinto muito. '' dizia ela enquanto ainda analisava o papel.

Em primeiro momento pensou em rasgá-lo, mas depois desconsiderou a ideia. Foi até uma estante de madeira rústica onde se encontravam livros, pastas antigas e alguns enfeites e pegou uma pequena caixa dourada. Ela olhava para a caixa com a mesma cara de quem revê alguém que não encontra há muito tempo. Sentou-se na poltrona, colocou a caixa em seu colo e pegou o papel. Olhou para ele mais uma vez, agora prestando atenção em todos os detalhes e informações, ou digo lembranças, que ele trazia. Dentre goles quentes de seu chá de hortelã, apenas sorria, perdida nas lembranças que passavam como filme na sua mente. Mais uma vez. 

Depois assoprou a poeira da caixa e com uma chave abriu-a. Revirou todos aqueles papéis, mas no momento o único que lhe interessara era aquele que achara agora pouco. Já estava na hora de guardá-lo ali, junto às outras lembranças. Pois agora ele fazia parte delas. Então o colocou em cima de todos e fechou a caixa. Ela não sabia por que guardava todas aquelas coisas... Todas aquelas recordações. Muita gente se livra delas, as materiais, pensando que se livrarão das sentimentais também. Aí que se enganam. Então por que não guardar? Fazem parte da nossa vida. Ela tinha muitas delas e as guardava com carinho, nunca se esquecendo de chavear a caixa. Guarda a chave consigo muito bem, nunca sabe quando vai usar. Ela não tem uma cópia embaixo do tapete do hall.

Depois do que acontecera, foi escutar música. Aquelas músicas. Lembrou-se do tempo que chorava escutando-as e as lembranças a assombravam. Agora ela sorria.

''Seria talvez injusto dizer que perdi tempo, não sei. Mas de qualquer forma, ganhei muito mais do que perdi. Obrigada. Não sei porque estou voltando à isso, muitas coisas guardei comigo. Você não precisa delas, eu sei.''

Escreveu isso em uma folha comum, colocou um pouco do seu perfume e entregou a pequena carta ao vento. E então voltou para o seu chá.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

So just remember to



Smile, smile, smile.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

If the rain comes.



- A chuva caindo lá fora é bonita e inofensiva quando observada aqui de dentro - ela dizia.
  Os dias passavam e ela continuava ali, observando através daqueles vidros frios a rua, até onde os limites da janela permitissem (seus olhos sempre enxergaram além) como se esperasse algo importante. Mesmo sabendo que não chegaria.
  Ela passara muito tempo ali. E então... Cansou. Enxugou suas lágrimas, pôs aquele velho vestido amarelado e desgastado, seu preferido. Tomou uma última dose das lembranças, misturadas como um doce veneno em seu chá, abriu a porta e depois de sentir a brisa acariciando seu rosto, saiu...