Me dei conta que sim, era a mesma rua. Mas como nunca reparei-a assim? Simples. Estamos sempre ''ocupados demais'' com nossas desocupações e deixamos de ver o que está na nossa frente.
O clima favorecia a reflexão. Tudo em minha mente girava freneticamente, muitas informações se transformando em nada. Um grande vazio me tomou, e eu gosto dele. É bom por um instante esquecer tudo e deixar que o momento te envolva.
Escrevi ''All You Need is Love'' naquela árvore. Agora todos os dias que eu passar ali vou lembrar da criança que estava sentada na calçada no fim da rua. Ela comia uma barra de cereais, ao que parecia de longe, e tomava algo em uma garrafinha infantil de plástico verde. Ao seu lado tinha um carrinho com papelões e garrafas, mas era grande demais para que pudesse levá-lo, então não sei se esperava alguém. As pessoas e os carros passavam apressados e pareciam nem perceber que estava ali. Talvez não percebessem mesmo. Naquele momento estava sozinha.
Meus pés me levavam automaticamente para o caminho que estão acostumados a fazer, todos os dias. Mas hoje não.
Os vidros dos carros estavam embaçados em consequencia da garoa, não pude usá-los como espelho como de costume. Cheguei na praça e me sentei em um banco úmido tomado por gotinhas. A cada rua que eu passava surgiam novas ideias, pedaços aqui e ali. Mas eles somem quando vou prendê-los todos juntos à um pensamento só. A cada rua surgiam novos cliques, muitos deles. Gostaria de poder expressá-los em uma forma que outros pudessem entender o que eu entendo, mas estão além de qualquer forma de expressão. Sentimento é algo particular e inexplicável.